A infecção causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e suas manifestações clínicas em fase avançada representam um problema de saúde pública. A síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), é caracterizada pela presença de sinais e sintomas sugestivos de infecções oportunistas secundárias à deficiência imunológica avançada.
A Atenção Primária é a porta de entrada preferencial do paciente com HIV na rede de atenção à saúde, sendo responsável por acolher, promover a vinculação, reter o paciente para tratamento precoce, promover adesão ao tratamento e prevenção das complicações relacionadas à infecção.
Todas as pessoas que possuem probabilidade de contágio pelo HIV devem realizar o teste diagnóstico e receber orientações sobre medidas de prevenção da transmissão da infecção pelo vírus para si e para outras.
Pensando nisso, preparamos um guia rápido para revisão dos principais pontos sobre os passos para o diagnóstico do HIV na atenção primária a saúde e o tratamento com a terapia antirretroviral. Confira abaixo.
O Rastreamento
O diagnóstico e tratamento precoce da infecção pelo HIV, impacta na transmissão do vírus e na progressão da doença, podendo evitar a ocorrência da Aids.
O rastreamento das infecções sexualmente transmissíveis identifica uma rede de transmissão, e deve ser realizado, preferencialmente com a utilização de testes rápidos. Ressalta-se a importância do acolhimento realizado pela APS e implantação de fluxos para as vítimas de violência e para acidentes com perfurocortantes em profissionais da saúde, uma vez que ainda existe grande fragilidade na atenção desses eventos. Além disso, reforça-se a importância do conhecimento do território pela equipe, com o intuído de identificar possibilidades de medidas de promoção e prevenção, o rastreamento e monitoramento das pessoas diagnosticadas.
Os profissionais de saúde deverão oferecer a testagem para o HIV se:
- Qualquer pessoa que referir prática sexual desprotegida: testagem semestral
- Pessoa que referir prática sexual anal (passiva) sem uso de preservativo: testagem quadrimestral
- Pessoas privadas de liberdade: anual
- Pessoas diagnosticadas com outra infecção sexualmente transmissível (IST): no momento do diagnóstico e 4 a 6 semanas após o diagnóstico de IST e 3 meses após exposição
- Pessoas com diagnóstico de hepatites virais: no momento do diagnóstico
- Pessoas com diagnóstico de tuberculose: no momento do diagnóstico
- Violência sexual: no atendimento inicial; 4 a 6 semanas após exposição e 3 meses após exposição
- Pessoas em uso de PrEP: em cada visita ao serviço
- Pessoas com indicação de PEP: no atendimento inicial; 4 a 6 semanas após exposição e 3 meses após exposição
Gestantes: - Na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no 1º trimestre da gestação)
- No início do 3º trimestre (28ª semana)
- No momento do parto, independentemente de exames anteriores
- Gestante com comportamento de risco, realizar testagem a cada consulta pré natal
Mesmo na ausência de sintomas, recomenda-se a oferta de testagem para HIV e demais infecções sexualmente transmissíveis a todas as pessoas sexualmente ativas, em especial se apresentar exposição de risco.
Diante de um quadro viral sintomático, a infecção aguda pelo HIV deve ser considerada entre os diagnósticos possíveis, sobretudo se caracterizada exposição de risco por via sexual ou sanguínea.
O diagnóstico sorológico da infecção é realizado com algoritmos que utilizam dois testes sequenciais, um inicial (mais sensível) e um segundo mais específico para eliminar resultados falso-reagentes. Nesses algoritmos é possível a utilização de testes laboratoriais e testes rápidos.
Os testes rápidos são realizados na Unidade de Saúde, através de coleta de uma amostra de sangue ou com fluido oral, e fornecem o resultado em até 30 minutos.
Fluxograma: Dois testes rápidos (TR1 e TR2) realizados em sequência com amostras de sangue.
Tratamento
A elaboração do plano terapêutico deve ser realizada pela equipe multidisciplinar com a participação do paciente. As informações aos pacientes devem ocorrer de forma clara e com linguagem de fácil compreensão, incluindo os riscos do abandono ao tratamento – importância da adesão.
Terapia Antirretroviral (TARV)
O início precoce da TARV promove a redução da mortalidade, a transmissão vertical e sexual do HIV, o desenvolvimento de comorbidades graves, além de ter impacto na redução da tuberculose.
Nenhuma estratégia é eficaz sem considerar a importância de reforçar a adesão à TARV.
Para retirada da medicação, cada paciente deve cadastrar-se em uma Unidade Dispensadora de Medicamento (UDM) que lhe for mais conveniente. Verifique junto a secretaria de seu município a listagem das Unidades Dispensadoras de Medicamentos ARV.
Terapia inicial preferencial: combinação de lamivudina (3TC) e tenofovir (TDF), associados a dolutegravir (DTG).
Em casos de coinfecção tuberculose-HIV, mulheres com possibilidade de engravidar e gestantes, indicam-se esquemas alternativos.
Indicação de genotipagem pré-tratamento:
- Pessoas que tenham se infectado com parceiro (atual ou pregresso) em uso de TARV – casais sorodiferentes
- Gestantes vivendo com HIV
- Crianças infectadas pelo HIV
- Coinfecção tuberculose-HIV
Os seis primeiros meses do início ou reinício da TARV são importantes para o controle da infecção pois, mesmo em pacientes aderentes, podem ocorrer infecções oportunistas e/ou a síndrome inflamatória da reconstituição imune (SIR).
A SIR se apresenta como piora de doenças preexistentes, sendo geralmente autolimitada, mas pode assumir formas graves: reações inflamatórias relacionadas a infecções fúngicas, virais e bacterianas, além do surgimento de neoplasias e fenômenos autoimunes. O diagnóstico é clínico e deve ser considerado quando sinais ou sintomas inflamatórios ocorrem entre quatro a oito semanas após o início da TARV, sobretudo em pacientes em fase avançada da infecção pelo HIV. Nestas situações o atendimento especializado deve ser realizado.
Na suspeita de SIR, priorizar o diagnóstico e tratamento da infecção oportunista e não interromper a TARV. A terapia com corticosteroides deve ser utilizada apenas nos casos graves.
Para mais informações baixe o aplicativo do Protocolo Clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. Fonte: Linhas de cuidado; Ministério da saúde.