Olá, doutores. Hoje falaremos sobre um problema que representa um importante desafio de saúde pública em muitas regiões do mundo, especialmente em áreas onde as condições socioeconômicas são precárias e há falta de acesso aos cuidados de saúde adequados, a Hanseníase.
Definição e Fisiopatologia:
A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Esta doença afeta principalmente a pele, o sistema nervoso periférico e os olhos, podendo resultar em danos neurais e incapacidades funcionais se não for tratada adequadamente. No Brasil, a hanseníase é uma doença de notificação compulsória e requer investigação obrigatória em todo o território nacional.
A fisiopatologia da hanseníase envolve a preferência do M. leprae por regiões do corpo com temperaturas específicas, como a pele, os nervos periféricos superficiais e as membranas mucosas do trato respiratório superior, onde se desenvolvem granulomas devido a uma reação de hipersensibilidade do tipo IV. Isso resulta em desmielinização dos nervos periféricos, causando danos progressivos ao sistema nervoso e levando a sintomas como dormência, formigamento e perda de sensibilidade.
Embora a maioria das pessoas tenha uma imunidade natural contra o M. leprae, a suscetibilidade à doença pode ser influenciada por fatores genéticos. Ainda não se conhece completamente a forma de transmissão da hanseníase, mas acredita-se que ela ocorra principalmente através de gotículas respiratórias, especialmente em pacientes multibacilares não tratados. Outras possíveis vias de transmissão incluem o contato próximo com tatus da espécie Dasypus novemcinctus, bem como com primatas infectados.
Manifestações clínicas e exame físico:
A hanseníase apresenta uma variedade de manifestações clínicas que podem ser observadas durante o exame físico. Os sintomas incluem:
- Máculas hipocrômicas, acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade ao calor e/ou ao tato e/ou dolorosas;
- Hipoestesias, choques e câimbras nos braços e pernas, que evoluem para dormência, com possíveis lesões locais sem percepção do paciente;
- Pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), normalmente sem sintomas;
- Queda ou diminuição de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose);
- Hiperemia de pele com diminuição ou ausência de suor no local.
Outras manifestações possíveis:
- Dor associada a choque e/ou espessamento de nervos periféricos;
- Redução e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados;
- Redução e/ou perda de força nos músculos inervados por esses nervos, mais frequentemente em membros superiores e inferiores, e, por vezes, pálpebras;
- Edema de extremidades com cianose e ressecamento da pele;
- Febre e/ou artralgia, associados a nódulos dolorosos, de aparecimento súbito;
- Máculas com alteração na sensibilidade, associadas à dor nos nervos ulnares, fibulares comuns e tibiais posteriores;
- Congestão, feridas e ressecamento do nariz;
- Ressecamento nos olhos.
O diagnóstico da hanseníase é baseado nos achados clínicos, como máculas pigmentadas na pele, perda sensorial, parestesias, espessamento de nervos periféricos e outros sinais tardios como fraquezas musculares e paralisia facial. Fatores de risco incluem contato próximo com pacientes com hanseníase multibacilar, exposição a tatus, idade acima de 30 anos e influência genética. O reconhecimento precoce dos sintomas e o tratamento adequado são fundamentais para prevenir complicações e interromper a progressão da doença.
Abordagem diagnóstica:
O diagnóstico da hanseníase se baseia nas manifestações clínicas e características epidemiológicas, sendo essencial realizar um exame físico completo que inclui o dermatoneurológico para avaliar a sensibilidade térmica, dolorosa e tátil, além da avaliação da sudorese. Recomenda-se o uso do formulário de avaliação neurológica simplificada para verificar a integridade da função neural, permitindo a classificação do grau de incapacidade física.
A avaliação neurológica é fundamental em diferentes estágios da doença, como no início e durante o tratamento, especialmente se houver queixas como dor em trajeto de nervos ou fraqueza muscular, bem como no acompanhamento pós-operatório de descompressão neural. Todos os pacientes devem ter seu grau de incapacidade física avaliado ao longo do tratamento e no pós-alta para monitorar a progressão da doença.
Para confirmação diagnóstica, ferramentas laboratoriais podem ser úteis, embora o M. leprae não possa ser cultivado em meios de cultura. Exames como biópsia de pele seguida de baciloscopia são comuns, sendo importante ressaltar que a ausência de bacilos na baciloscopia não exclui o diagnóstico de hanseníase. Outros exames, como prova da histamina, teste de Mitsuda e sorologia para anti-PGL1, também podem ser considerados para auxiliar no diagnóstico.
Classificação:
Classificação da OMS:
Para cenários em que há déficit de experiência clínica ou suporte laboratorial, essa classificação é baseada no número de lesões de pele:
- Multibacilar: ≥ 6 lesões de pele e pode apresentar bacilos detectáveis em esfregaços de pele;
- Paucibacilar: ≤ 5 lesões de pele sem detecção de bacilos em esfregaços de pele;
Tratamento:
O tratamento para hanseníase que consiste em PQT – contendo Rifampicina, Clofazimina e Dapsona – é padronizado pela OMS, com acompanhamento ambulatorial para identificar e tratar possíveis intercorrências e complicações da doença e a prevenção e tratamento de incapacidades físicas. A medicação é fornecida gratuitamente pelo SUS. O tratamento deve ser realizado por 6 meses.
Na tomada mensal de medicamentos e no recebimento das cartelas dos antimicrobianos diários, deve ser feita a avaliação do paciente quanto à evolução das lesões de pele, comprometimento neural e estados reacionais.
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